terça-feira, 23 de setembro de 2014

A PROPÓSITO DE COMEÇAR



“Acho que estamos a começar qualquer coisa”, diz ele.
“Achas?”, digo eu. Olha-me a preguiça emocional da resposta. “Achas?” Dita com cara de sonsa era um sim. (Um sim fácil.) Mas dita com uma cara de total falta de surpresa era uma espécie de murro simpático. Isso. Como uma beijoca no meu punho fechado seguida de um murro bem feminino mesmo em cheio. Bracinho mole, mas em cheio. E como é que eu disse? Não sei. Não tenho a certeza.
Deve ter-me saído o murro porque ele ficou calado mais de um minuto. Depois lambeu o canto do lábio muito devagar, olhou para o copo (meio-vazio?) e perguntou: “Não queres mais gelo?”
Dependendo do tom a pergunta dele também podia ter picado. Mas eles trabalham pouco o tom e o tempo de dizer. E ficam pendurados.
“Sim, quero mais.”


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