“Acho que estamos a começar qualquer coisa”, diz
ele.
“Achas?”, digo eu. Olha-me a preguiça emocional
da resposta. “Achas?” Dita com cara de sonsa era um sim. (Um sim fácil.) Mas
dita com uma cara de total falta de surpresa era uma espécie de murro
simpático. Isso. Como uma beijoca no meu punho fechado seguida de um murro bem
feminino mesmo em cheio. Bracinho mole, mas em cheio. E como é que eu disse?
Não sei. Não tenho a certeza.
Deve ter-me saído o murro porque ele ficou calado
mais de um minuto. Depois lambeu o canto do lábio muito devagar, olhou para o
copo (meio-vazio?) e perguntou: “Não queres mais gelo?”
Dependendo do tom a pergunta dele também podia
ter picado. Mas eles trabalham pouco o tom e o tempo de dizer. E ficam
pendurados.
“Sim, quero mais.”
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