Há gente que gosta de usar o termo “beto” como ofensa. Mas
tenho um amigo peitudo do râguebi que gosta de mandar este grito de guerra:
“Beto que é beto tem orgulho!”
Das minhas três parceiras de estimação, pelo menos duas, a
Patrícia e a Mariana, são betas chapadas de acordo com essa classificação básica.
Mas isso não diz nada sobre elas. É que as duas, podendo passar por “betas” na
terminologia tradicional, mesmo assim têm estilos completamente diferentes.
Portanto, não há só um género de betice. Para começar, há
dois grandes géneros: a betice de berço e a betice de lifestyle.
O beto de berço está para o beto de lifestyle tal como o
rico está para o novo-rico. Estes quatro grupos não coincidem exactamente. Há
betos de berço que não têm um tostão. E, como eles próprios diriam: “Isso é
óptimo” (nunca na vida escreverão “ótimo”).
“Isso abre portas”, dizem eles, apesar de geralmente já
terem as portas todas abertas. Não vale a pena perguntar-lhes que lógica é que
há em ser-se uma pessoa normal sem dinheiro e isso abrir portas. É só uma coisa
que gostam de dizer.
Muitas vezes não têm dinheiro porque nem sequer precisam
disso. Em família há sempre alguém que paga, e o beto de berço está sempre em
família.
Mas o beto de berço pode mesmo não ter dinheiro nenhum,
apesar de viver com conforto. Além disso, o beto é um íman para a borla. Há
qualquer coisa no beto que fareja a borla à distância, como o tubarão cheira o
sangue a quilómetros. E quem quer dar coisas inacreditáveis de boas adora dar
ao beto. O beto tem cara de que merece. O beto de berço, claro. O beto de
lifestyle acha que a má cara é sinal de confiança.
Outros betos de berço têm um recurso fabulosamente
excitante: o cartão de crédito da avó ou do avô. Um cartão dos pais violava a
ideia de “independência”. Não gostam de dinheiro porque “estraga as calças”, um
modo delicado de dizerem que a carteira cheia magoa o rabinho ao sentar. Também
não gostam de tirar a carteira do bolso, e muito menos atirá-la para cima das
mesas como fazem os betos de lifestyle a toda a hora.
Há betos de berço giríssimos que não têm carteira. Em vez
disso trazem um pião: “Encontrei isto. Era do meu avô.” E acham realmente que a
sedução pode começar por aí, o que vendo bem acaba por ser melhor do que
imensas soluções pegajosas do macho vulgar. Ou então: “A minha avó deu-me este
livro. Estou a aprender imenso sobre a mente feminina.” Ou ainda: “A minha mãe
tem vergonha de ter guardado esta revista da minha avó. É sobre as princesas do
Mónaco quando eram pequenas. Tinham este cavalinho, está(s) a ver? Tive um
igual!” As princesas do quê? O que é que eu digo sobre o teu cavalinho?
Há betos de berço que largam de casa e nunca mais agem de
acordo com a espécie. Passam totalmente despercebidos e fazem por isso.
Raramente se dão a conhecer por gestos descuidados como segurar num hambúrguer
com o guardanapo, ou perguntar o “nome de família” de uma maluca qualquer.
Mas estou só a falar deles. Isto dava um livro. Próximo
capítulo: elas. Elas são diferentes: têm estilos. Podem ser animais
completamente diferentes, reconhecendo-se mutuamente como betas.
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